Marte-e-Vênus: A ilusão

Antes de tudo, o termo Marte-e-Vênus pode fazer o leitor pensar que este texto irá se referir ao famoso livro “Os homens são de Marte, as mulheres são de Vênus”, escrito por John Gray, mas não é caso. Todavia, é possível que o conteúdo aqui articulado possa tecer críticas a essa noção de que homens e mulheres vivem em universos diferentes de pensamento, e que cada ser humano deve se adaptar a essa dinâmica através de estratagemas que se adequem a tais ideias. Do mesmo modo, o texto procura desconstruir essa noção supracitada, e a inspiração para isso vem de uma música do Tom Boxer, chamada Deep in Love (Profundamente Apaixonado), uma musica com uma letra confusa, e que sintetiza o argumento como um testemunho do que é tal noção.

Dissecando o Clipe

O clipe tem um trecho muito simbólico que diz (tradução livre): “Eu sou de Vênus, você é de Marte, quando estamos juntos, criamos estrelas”, além de imagens eróticas (exclusivamente femininas) que ajudam a construir uma narrativa onde a mulher é objetificada, e o homem é a base central de controle, domínio e poder, cuja combinação “faz essas estrelas”. Nesse sentido, tal trecho se alinha com a ideia de bell Hooks (2021, pág. 184) de que ‘no universo de gênero Marte-e-Vênus, homens querem poder e mulheres querem apego emocional e conexão’, uma noção terrível e totalmente errada. A música é boa, as pessoas que a fizeram escolheram esse caminho, e provavelmente ela foi feita para obter sucesso diante do que a sociedade demanda, entretanto, esse não é o ponto.

O ponto é que clipes ou elementos de propaganda dessa natureza – entre outras coisas ruins – ajudam a reforçar a ideia de que existe uma cisão fundamental entre os gêneros, onde de um lado estão os homens que se alinham com o poder naturalmente sob este prisma, e do outro as mulheres, que os seguem passivamente, preocupando-se de maneira natural com apego emocional e conexão, fixando esses papéis de forma brutal, o que perpetua a desigualdade entre gêneros.

 

A naturalização da noção Marte-e-Vênus

Então, com elementos como estes tão prevalentes na sociedade, as pessoas em geral naturalizam esse tipo de narrativa. De um lado, os homens, beneficiados pela estrutura patriarcal, mantem-se majoritariamente na posição de poder que lhes é conveniente, ainda que nem sempre de forma consciente, o que lhes beneficia, mas também cobra um preço emocional.

Porém, o impacto maior se dá nas mulheres, que se tornam oprimidas, muitas sem compreender essa dinâmica, outras ainda reféns dessa lógica dominante. Muitas vezes, estas também se tornam alienadas aos seus verdadeiros sentimentos. Embora sejam sempre motivadas à conexão emocional, sendo isso reforçado pela estrutura social, elas sempre têm de manifestar isso de uma forma que se adeque ao padrão machista. Isso faz com que elas percam de vista seus verdadeiros sentimentos ou mesmo vontades. Seja como for, essa lógica mina o que há de mais importante na vida, e que deveria ser a base de tudo o que viesse a ser construído em termos de vida e futuro: o amor.

 

A noção Marte-e-Vênus e o não saber amar

Basicamente, na sociedade de modo geral, as pessoas não sabem amar.  Ainda pior, o amor não é discutido, nem trabalhado, tampouco serve de base para o desenvolvimento de propostas, ou ideias, mesmo no âmbito político, o que seria deveras importante. Pelo contrário, ele é degenerado e tratado como se fosse apenas uma ordem subjetiva individual, atrelada majoritariamente a ideia de romance, que, segundo Toni Morrison (2019), é “uma das ideias mais destrutivas da história do pensamento humano”.

Do mesmo modo, livros e autores reforçam a ideia de que o amor baseado na reciprocidade e no carinho é uma ilusão. Assim, tudo se baseia em um jogo de poder, onde as mulheres precisam usar “ardis femininos para jogar o jogo de poder (Hooks, 2021, pág.186), e os homens assim não precisam se conectar com suas emoções para aprender a amar, o que legitima seus respectivos comportamentos possivelmente abusivos. Assim sendo, as mulheres são incentivadas a amar, mas não são ensinadas a amar adequadamente, e os homens, além de não serem ensinados, tampouco são incentivados pela sociedade, e ainda sua postura de dominância é legitimada, subsidiada pela busca do prazer.

 

A solução

E o amor é a solução pra isso, sua prática saudável, seu entendimento pleno como uma emoção participativa. O desejo, o afeto, o carinho, se tornam partes do todo, elementos que combinados ajudam a demonstrar amor em sua essência, uma essência atrelada a noção de que o amor é um ato de intenção, uma escolha que culmina em ação, muito mais que um sentimento que  acomete os seres humano, o qual este seria refém. Ainda mais, a vontade de poder, dominação e abuso não coexistem com o amor, e este texto se propõe a ser uma luz para aumentar discussões como essa. Na concepção apresentada, o antídoto para a lógica Marte-e-Vênus envolve falar de amor da maneira que ele merece, como bell Hooks fez em seus livros

Nesse sentido, é oportuno relembrar que cuidado, respeito, afeição, reconhecimento, compromisso, confiança, bem como honestidade e comunicação aberta, são os ingredientes principais da prática do amor, e estes precisam estar em nível de excelência da vida de quem ama, se estendendo para além dos relacionamentos românticos, e se ampliando para todo e qualquer vínculo de amor (Hooks, 2021, pág. 47).

 

Paixão e Amor são diferentes

Por isso, em um ambiente onde exista carinho, por exemplo, não necessariamente existirá amor, principalmente se as atitudes de seus entes forem incompatíveis com suas palavras. Mais além, paixão e amor têm sentidos diferentes e, embora possam estar relacionados, não são a mesma coisa. Isso significa que o sentimento de se apaixonar não pode servir de justificativa para um comportamento abusivo, além de não ser necessariamente uma expressão de amor. Ainda mais, sobretudo, se for baseado em algo impessoal, no desejo pelo desejo, na objetificação, como está presente no clipe citado que este texto alude.

Na verdade, é a prática do amor genuíno que impede a objetificação, onde segundo Frankl (2014, pág. 84) “o encontro de amor impede definitivamente que se veja ou se use o outro ser humano como um simples meio para um fim”, o que implica que o amor é fundamental para os vínculos humanos. Sobretudo, é fundamental para o aspecto romântico, porque mantém a dimensão humana dentro dos vínculos firmados, e preserva a noção de que o cuidado e a transcendência mútua se sobrepõem a qualquer tipo de lógica dominante de poder que culmina em ver o outro como objeto.

E se a sociedade se configura dessa forma, se há tanta alienação e nebulosidade a respeito dessa temática nos dias atuais, e também se as pessoas até se envergonham e acham ridículo discutir tais premissas, aliando essa ideia à algo fantasioso ou ilusório, o que pode ser feito para avançar nesse aspecto, de modo a superar a lógica Marte-e-Vênus, e estender a prática de amor para todos os segmentos possíveis?

 

Conclusão

Em síntese, se a ordem do dia é o desamor, falar de amor pode ser revolucionário. Esse é o caminho, proclamado pela Hooks, e ratificado por este autor. É difícil esperar que as propagandas se modifiquem, ou que os livros abordem esses temas amplamente de forma adequada. Também é difícil as políticas passem a valorizar esses pontos porque, simplesmente, não é do interesse midiático tal conscientização que, ameaça a alienação e ignorância das pessoas.

Então, o que cabe em termos de conduta pessoal, é fazer questão de falar de amor onde quer que se vá, para qualquer público, simplesmente enfrentar o marasmo, o embaraço e também o desdém que acomete as pessoas quando questionadas sobre o assunto. Por que a lógica Marte-e-Vênus é muito cruel e disfuncional, e pra falar a verdade, seria melhor pensarmos que homens e mulheres podem criar estrelas, sendo ambos deste mundo mesmo.

 

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Referências

Frankl, V. E. (2014). Um sentido para a vida: Psicoterapia e humanismo. Ideias e Letras.

Hooks, b. (2021). Tudo sobre o amor: Novas perspectivas. Editora Elefante.

Morrison, T. (2019). O Olho mais azul. Companhia das Letras.

Marte-e-Vênus e emoção participativa: A ilusão dos universos de gêneros distintos